sábado, 4 de setembro de 2010

Sleep is a Reconciling

Ás 6h da manhã é fácil arranjar lugar no metro. E no comboio. E no autocarro.
E já que a necessidade no topo da pirâmide - ir sentada - está satisfeita, passo para a próxima: o que fazer no tempo de viagem. Não trouxe livros, ponho-me a pensar no blog e na discussão que rodeia o nosso conceito de pátria.
Antes achava que a minha pátria tinha ficado no sul pelas ruas de Lisboa, no Expresso e nos cafés, nas conversas de cerveja no bairro alto ou nas praias micro-climáticas da nossa terra.
Por esta razão acho que resisti a tornar Delft a minha casa. Sem sucesso, devo acrescentar, já que Delft foi-se infiltrando na minha teimosia - hoje sinto falta do mercado ao sábado, dos sinos a tocar insistentemente em época natalícia, dos croquetes no pão, do cheiro a stroopwafles acabadas de fazer e da moldura de água e canais. Lisboa foi ficando para trás e hoje quase que a estranho. Como uma autora disse uma vez de Cambridge - 'Cambridge já foi minha, agora é de outras gentes' – talvez Lisboa já tenha tido o seu espaço e o seu tempo.
Agora aqui, estou bem. Encontrei a minha tranquilidade no centro do mundo. E assim, num processo natural, percebo que o meu conceito de pátria estendeu-se a tudo o que trago comigo. Deixou há muito de ser uma terra, uma tradição, uma língua, para passarem a ser as minhas terras, as tradições que vou criando todos os dias, as pessoas com quem vou partilhando os dias bons ou os pequenos aborrecimentos. Representa todos os bairros onde viveste, os teus amigos que conheço de nome, as tuas vivências que não tive. A minha pátria é também as saudades tuas, da nossa família, dos amigos que fui fazendo. São os valores que partilho contigo e os que fomos moldando em diferentes países. É a língua em que aprendemos a falar e a língua onde tento desenfreadamente e sem sucesso um sotaque Oxfordiano. É Amsterdao, Barcelona, Nova Iorque.

A mãe diz que não temos raízes. Que não temos pátria.

Não concordo.
O problema é que temos muitas.

Deixo-te com uma estrofe de John Dowland muito lembrada por mim esta semana – reconheces?

Sleep is a reconciling,
A rest that peace begets:
Doth not the sun rise smiling
When fair at even he sets?

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